Evasão é relacionada à má escolha pela carreira

Embora esta análise seja relativa ao ano de 2006, ela interessa à medida em que é possível refletir sobre porque as evasões ocorrem.
 

Cerca de 792 mil universitários abandonaram o Ensino Superior em 2006

Da Redação

A evasão universitária já causa prejuízos que se aproximam da casa dos R$ 6 bilhões. A estimativa foi feita pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e Tecnologia. Segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), em 2006, as universidades particulares registraram evasão de 25,1%, o equivalente a 669 mil estudantes. As instituições públicas se mantêm com 12,4% de evasão, o que representa 123 mil alunos de graduação que abandonaram o ensino superior. Além de fatores financeiros, a falta de conhecimento sobre a carreira leva muitos estudantes a abandonar o curso, o que sugere que um acompanhamento vocacional diferente pode ser uma das soluções para diminuir essa tendência.

O diretor Executivo do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo), Rodrigo Capelato, explica que esses índices correspondem a diversos fatores para a renúncia a universidade. "O abandono acontece principalmente nos primeiros anos de curso onde existe muita teoria e matérias básicas, depois vem a questão financeira, muitos não agüentam pagar a mensalidade e preferem sair a se endividar".

De acordo com o diretor, algumas universidades criaram medidas estratégicas para conter esses números e segurar o aluno na instituição. "Muitas buscam seguro educacional, pagamento facilitado com o Fies (Financiamento Estudantil) onde o aluno parcela o valor das mensalidades, e bolsas de estudos com descontos de até 50% no valor da parcela", afirma ele. Capelato aponta que outra solução para diminuir o problema é criar créditos educacionais para facilitar a conclusão do curso. "Novas linhas de crédito precisam ser criadas no setor para manter os jovens nas instituições e seguros de que poderão se formar", acredita.

Mas os problemas não são caracterizados só pelo lado financeiro, Capelato afirma que a evasão dos alunos está relacionada com a escolha antecipada por uma profissão em que o estudante não se sente seguro. "Muitas vezes o jovem é imaturo nas decisões. A escolha errada pelo curso gera frustração e desistência, conseqüentemente o abandono aumenta. O que o aluno precisa entender é que existe tempo de explorar outras opções de graduação".

A sugestão do diretor para minimizar tanto a evasão, quanto a escolha errada da carreira, é um acompanhamento vocacional nos primeiros anos do curso para que, desta forma, o estudante tenha mais motivação e preparo para enfrentar o ensino superior. "A instituição pode tentar entender os motivos de frustração do aluno e mostrar alternativas no mercado de trabalho que façam relação com o curso escolhido sem que o aluno precise abandoná-lo". Outra alternativa na opinião de Capelato é uma revisão, ou mesmo uma mudança no sistema de escolha da carreira. "O primeiro ano de curso poderia não ser definitivo, e sim mais livre. Deste modo, o aluno analisaria se realmente é isso que quer e poderia se remanejar de acordo com a avaliação pessoal sobre a profissão ou se especializar na área", sugere ele.

Na opinião da coordenadora do curso de Psicologia da Universidade São Camilo, Jonia Lacerda Felício, para evitar conflitos na hora da escolha profissional, o estudante deve ser estimulado já na infância. "Desde a fase escolar, o gosto pela produtividade deve ser presente em atividades conjuntas. Mas a informação ocupacional vem durante a adolescência", acredita ela. Na visão de Jonia, a criança com sete ou dez anos já consegue entender que as relações sociais são de troca. "É necessário que haja um incentivo cedo para isso. A criança precisa compreender que é dar e receber. A educação neste sentido precisa melhorar", diz.

Na visão da psicóloga, uma criança que desfrutou de uma educação com esses conceitos se tornará um adulto mais consciente dos seus valores e sua identidade pessoal para fazer uma escolha profissional consciente. "No final da adolescência, ou Ensino Médio, o jovem já pode dizer o que acha importante, quais são seus interesses, que tipo de vida ele deseja no futuro e o que tem a ver com ele", avalia ela. Segundo Jonia, cada pessoa tem seu tempo, mas muitos pré-universitários relacionam a escolha profissional com valores pessoais e familiares. "Alguns jovens dão importância à história familiar e seguem a carreira dos pais, ou pelo contrário, se distanciam completamente do que os pais representam profissionalmente, não seguem os mesmos passos".

Na opinião de Jonia, a influência externa gera pressão sobre o jovem e precisa ser debatida nessa fase natural de conflito. "O estudante precisa questionar os conselhos, comparar os pontos de vistas, mas colocar sua vontade em primeiro lugar". Segundo a coordenadora, a pressão feita pelos pais não é negativa, mas sim uma questão de satisfação em ver os filhos na mesma área de atuação. "A tarefa do vestibulando neste caso é afastar o desejo dos pais para permitir que o seu seja colocado à prova. Fazer uma comparação e observar o cotidiano da profissão em questão é uma forma de achar respostas".

Foi o que fez a vestibulanda Sinaya Mateus Pereira, de 18 anos, que sofreu influências do pai para cursar Engenharia Civil. A estudante por sua vez, chegou a pensar na possibilidade de seguir a profissão, mas analisou outras oportunidades no mercado e colocou sua vontade à frente do desejo do pai e hoje, decidida, vai prestar estatística. "Pesquisei sobre algumas carreiras que me identificava, assisti palestras no colégio, li livros sobre a carreira e busquei informações na internet até me sentir segura para decidir", lembra ela.

Na opinião da coordenadora do Laboratório de Estudos sobre o Trabalho e Orientação Vocacional do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), Yvette Lehman, é natural que haja conflitos, dúvidas e pressões dos pais na futura vida profissional do jovem. Até diante das mais variadas possibilidades de escolha. Só a USP, por exemplo, que tem o vestibular mais concorrido do País, concentra 228 opções de cursos de graduação. De acordo com Yvette, quando há dúvidas quanto à carreira, o recomendado é que os pré-universitários façam uma orientação vocacional. "O processo de auto-conhecimento trabalhado no Instituto auxilia o estudante a buscar respostas sobre si mesmo. Fazemos atividades lúdicas como elaborar um projeto do seu futuro e tentar se enxergar nele", explica ela.

Yvette alerta que a grande crise dos jovens é decidir entre uma profissão que ele tenha vocação ou uma que proporcione bons ganhos. Na sua visão, a alternativa financeira na hora da escolha não é negativa, mas a satisfação em trabalhar com o que se tem identificação pode gerar retorno pessoal. "Todas as áreas passam por dificuldades financeiras, não é correto afirmar que depois de formado o salário será alto. É melhor sobreviver por aquilo que te dá prazer do que por aquilo que rende", acredita ela.

O vestibulando André Queiroz, de 17 anos, quer prestar economia e não abriu mão do retorno financeiro que a carreira poderá oferecer na hora da escolha profissional. "Quando optei por essa área foi estritamente pelo salário ser razoável", admite o rapaz. Na visão de Yvette, a opção por um curso que possa permitir maiores ganhos é uma maneira de compreender que a realidade econômica não agrada a todos. "O retorno financeiro é uma preocupação de todos nesta fase, essa consciência faz o estudante lutar pelos ideais que acredita e outros projetos de vida".

A psicóloga alerta que muitos jovens não pensam no curso nem pelo lado financeiro nem pela vocação, o que atrapalha o estudante no futuro. "O problema entre alguns jovens é a afobação. Muitos escolhem qualquer curso só para entrar na universidade e ver como é. Eles não atentam que no meio do curso vem a decepção por não pensar antes de escolher. Este fator reflete na própria universidade. A escolha inconsciente contribui para o aumento da evasão, muitos abandonam o curso, pois não se identificam", declara ela.

Quando há aumento no número de desistentes, os prejuízos não ficam só com os alunos. As universidades que investiram na estrutura para ministrar determinado curso perdem dinheiro, podem chegar a cancelar a graduação e não abri-la para futuros processos seletivos, além de ser obrigadas a remanejar as turmas existentes. "A estrutura fixa é muito cara para a instituição, se você pensa numa turma de 40 alunos e a metade desiste, não tem como pagar isso. Ou a unidade trabalha com o prejuízo ou convence os alunos a se transferirem para cursos semelhantes", diz o diretor executivo do Semesp. Capelato afirma que para evitar tais prejuízos algumas instituições mexem na grade curricular de modo a deixar o início do curso mais chamativo. "Profissionais especializados trabalham para manter os alunos motivados com aulas e disciplinas mais descontraídas, por exemplo", revela ele.

Nova e diferente

Motivação e uma proposta diferente de aprender é a pedagogia aplicada pela UFABC (Universidade Federal do ABC), desde sua fundação. A instituição adotou um bacharelado interdisciplinar em Ciência e Tecnologia que permite aos alunos maior flexibilidade nos estudos, liberdade para decidir quais disciplinas vão cursar e segurança na graduação escolhida.

A pró-reitora de graduação, Itana Stiubiener, explica que todos os graduandos estudam três anos de curso básico, o que corresponde a 40% do período. Após este tempo escolhem como vão administrar os 60% restantes. "O aluno escolhe dentro de um conjunto de disciplinas o que ele vai querer cursar. Se preferir se aprofundar em química, por exemplo, ele tem essa liberdade?. Itana alerta que o universitário pode optar em cursar em outra instituição de ensino que seja conveniada com a UFABC. "Desde que haja parceria entre as universidades, ele pode aproveitar a oportunidade de vivenciar a disciplina em outro lugar".

Na opinião de Itana, esse sistema de ensino permite autonomia no aprendizado do aluno e adequação aos novos tempos de educação. "Estamos concentrados na formação conceitual do universitário e na aptidão. O profissional que sai daqui tem como atender o mercado de trabalho e será empreendedor. O sistema de ensino ajuda neste sentido, é inovador", garante ela. A pró-reitora explica que o modelo pedagógico é um diferencial no sistema educacional universitário, porém, é novo e está sendo adaptado. "A instituição é jovem e iniciou com esse conceito, ainda é cedo para expressar em números a revolução do Ensino Superior, mas os alunos aprovam a nova forma de aprender, sentem-se mais preparados e o mercado interessado".

Fonte: Universia Brasil

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